Como enfrentar as festas de fim de ano

Sabemos que o fim do ano abarca uma série de compromissos. É uma época de fechamento de ciclo na qual as pessoas projetam muitas expectativas e isso gera uma certa tensão emocional.

Pensei em fazer esse texto para te ajudar a passar, principalmente, pelo Natal em família, mas o que escrevo aqui pode ser aplicado para qualquer uma das festas de fim de ano, incluindo a do trabalho.

Eu tomei como base os 4 passos da Comunicação Não Violenta, e se você é um conhecedor da CNV vai perceber que eu fiz pequenas alterações, porém seguindo sempre os ensinamentos de Marshall Rosenberg, o criador do método.

Apesar de uma festa importante e que é celebrada em boa parte do mundo, você não é obrigado a gostar do Natal. Talvez seja esse o ponto mais importante. Antes de qualquer coisa, faça as pazes com você mesmo se você não é exatamente a pessoa mais natalina da família. E nem se sinta o Grinch, aquele personagem de história infantil que é um monstro verde e peludo, que tenta acabar com os natais do vilarejo em que mora.

Você é você. E deve ter motivos para não gostar do Natal, mesmo que a festa contenha em si uma mensagem de alegria, conexão, generosidade e amor, talvez você tenha vivido outras coisas nos Natais passados que não estão associados a essas coisas positivas, e muitas vezes, ilusórias.

Quando juntamos pessoas, bebidas alcoólicas e intimidade quase tudo pode acontecer. De bom e de ruim.

O primeiro passo para você enfrentar as festas, sejam elas em família ou no trabalho é:

1.Expectativa

Tenha ZERO expectativa. Isso mesmo! Não crie nem más expectativas (pensando que esse Natal será igual aos outros e acabará arruinado como sempre) nem crie boas expectativas de que tudo vai dar certo.

Você não pode garantir que as pessoas irão se comportar da forma como gostaria. Você pode criar uma expectativa positiva em relação a você. Pode dar comandos positivos a si mesmo, dizendo que será mais tolerante e que manterá a mente mais aberta, mas é só.

Criar ZERO expectativa te ajuda a diminuir a sua frustração e portanto, a ressaca emocional da festa.

2. Responsabilidade

Assuma a responsabilidade de que foi você que decidiu participar da festa. Pode não ter sido ideia sua e você preferia estar em casa comendo pizza de peru a califórnia e vendo sua série favorita, mas em algum momento você decidiu que estaria na festa. Encare que você não é vítima, foi uma decisão sua.

Mesmo que sua mãe, companheirx, parente, chefe…. tenha te ameaçado, chantageado, implorado para você ir, você decidiu acatar o pedido evitando as consequências de não ir. Houve um momento em que ponderou entre ir e não ir.

Assumir a responsabilidade te ajuda a identificar o porquê de sua decisão e você se torna mais consciente e menos refém. Mesmo que você tenha ido em respeito a sua avó, que talvez seja o último Natal dela, faça valer a visita. Dedique essa noite para ela.

Ah, você foi só para comer e beber? Huum, ok, encare isso e dedique-se a isso na festa. De novo, faça valer a pena. A decisão é sua. Não a terceirize.

Você vai ver que isso é libertador!

3. Observar/ evidências

Vamos encarar a realidade? O Natal é apenas uma festa que ocorre todos os anos, dura algumas horas e reúne familiares e amigos. Pronto! Se olharmos de forma isenta (e eu não quero desrespeitar aqueles que consideram o Natal uma festa religiosa), o Natal é só isso.

Cada um vai atribuir o significado que acredita e cada um vai transformar a festa em algo único para ela. Se perguntarmos para você e todos os familiares como foi o Natal passado, cada um lhe dará uma versão única.

E é exatamente isso que gera confusão, pois cada um quer que a sua versão seja a verdadeira. E não é. Se 10 pessoas estiverem presentes, você terá 10 versões do que foi essa noite.

Para evitar esses mal entendidos você deve ater-se aos fatos, às evidências e se tornar um observador da festa.

Aquele tio veio falar de (coloque o assunto polêmico do seu gosto) com você? Atenha-se aos fatos. O que qualquer pessoa que estivesse vendo a cena diria: “Fulano está falando sobre X com você”.

O que não é um fato é você achar que ele faz de propósito, que é para te magoar, que ele veio para festa pensando nisso. Isso tudo são interpretações e elas podem estar erradas. Fique nos fatos e você passará mais leve pela festança.

Entenda que o que as pessoas falam e você acha que é um ataque, não é contra você, é a favor delas. É para proteger a necessidade delas e essa pessoa age como ela agiria com qualquer um, pois é da natureza dela.

Um escorpião não pode ser outra coisa que não um escorpião.

4. Necessidade

Os três primeiros passos foram para preparar o seu terreno, ou seja, a sua mente. Mas e agora que você chegou na festa e já vieram as perguntas: “quando casa?”, “quando terá filho?”, “quando vai arranjar um melhor emprego?”, “que roupa é essa?”, “que cabelo é esse?”, “o político X (que você odeia) é incrível!” ou outros temas polêmicos que te ofendem e desagradam – o que fazer?

A CNV nos ensina a pensar na nossa necessidade que é ofendida pela fala da pessoa, mas no Natal eu vou te pedir para você só pensar na necessidade do outro que está falando. Esse é um exercício poderoso para você desviar dos ataques. É pouco provável que você consiga mudar a ideia de alguém durante o Natal sobre essas crenças e eu sugiro que você abandone a ideia de fazê-los entenderem o seu ponto de vista.

A ideia aqui é sobreviver, sem muitos perrengues e sem que você se sinta muito ofendido e nem ofenda ninguém. É passar bem “na fita”, não é mesmo?

Então, quando aquela tia que só quer saber de policiar sua vida amorosa vier lhe perguntar sobre isso, tente entender a necessidade dela. Será que ela ainda acredita que apenas com o casamento alguém pode ser feliz? Então, nesse sentido a pergunta: “se você já casou” – pode querer dizer: “estou preocupada com você, gostaria que você tivesse um companheirx, pois acho que só dessa maneira se pode ser feliz nesse mundo”

Ao concentrar-se em buscar a necessidade do outro você irá distrair a sua atenção de dar uma resposta defensiva (e potencialmente mais provocativa) e mais, pode abrir uma oportunidade para você compreender essa pessoa melhor e permitir que enxergue que ela é apenas alguém que tem uma visão limitada da vida. Simples assim.

Para encerrar, desejo de coração que você consiga passar bem pelo Natal, que se torne um ponto de conexão entre as pessoas e que a partir desse exercício você consiga se virar melhor nos ambientes que te desafiam.

Boas festas para você e para aqueles que você ama.

Obrigada pela sua “audiência”, abraços e até o ano que vem!

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