O cenário atual é de instabilidade e mudanças rápidas marcam os pilares de nossa sociedade. Estamos vivendo revoluções dentro de revoluções.
Questionamentos sobre gênero, tipos de relacionamento, profissões, formas de trabalho, dinheiro… Você pode pensar em qualquer tema fundamental da nossa época e irá perceber que ele está sendo descontruído para depois ser reconstruído.
O poderoso deus Shiva, um dos deuses da religião Hindu, anda trabalhando bastante. Ele é quem destrói para depois construir. Faz parte do movimento do Universo.
E essa grande reforma era necessária. Mas como toda reforma, é incômoda e desgastante.
São tempos desafiadores, com certeza. E a minha proposta aqui é de mais uma desconstrução, que ao meu ver é muito fundamental para mantermos nossa bem-estar físico e mental.
Muito se fala de produtividade, de alta-performance, de “trabalhe enquanto eles dormem” e outras teorias que te ajudariam a trabalhar por mais tempo e conquistar resultados que os outros não conseguem.
Qual o preço disso? Dessa produtividade insana? O filósofo sul-coreano, Byung Chul Han nos batizou de sociedade do cansaço. Veja, não é sociedade da felicidade ou da produtividade, é o oposto.
Estamos mais doentes, seja física ou mentalmente. Ansiedade, depressão e o burn out, que acabou de ser incluído na lista de doenças da OMS, geram mais e mais afastamentos nas empresas.
Quase 100% dos meus pacientes, semana a semana, iniciam a sua sessão dizendo: “estou cansado/a, exausto/a”. Todos tentando se adaptar a um estilo de vida de alta demanda.
Outro filósofo, Jiddu Krishnamurti diz: “Não é sinal de saúde estar profundamente adaptado a uma sociedade doente.”
Adaptar-se não é o caminho. Por isso, eu disse que proponho uma mudança na forma como você vê o seu tempo.
Não é mais uma questão de controle, como se o tempo escorresse pelas suas mãos. Sim, ele continua escorrendo e nos consumindo, o Deus grego Cronos continua engolindo seus filhos, porém, minha proposta é PROTEGER o seu tempo.
Veja, controle é a lei, a ordem, a regra, a restrição, a vigilância, são portanto, atributos do pai, do masculino.
Proteger é o cuidado, acolhimento, nutrição, dedicação, desenvolvimento, são atributos da mãe, do feminino.
É preciso equilibrar a balança que pende para lei masculina, reforçando também a importância das características femininas, como a compassividade e a cooperação ao invés de apenas competição. É tempo de alteridade.
Chegamos a um momento histórico onde não falta informação, não falta conhecimento, no qual a tecnologia, que supostamente veio para nos auxiliar com os trabalhos maçantes e perigosos, acabou por nos colocar em sua própria lógica.
Onde o planeta está exaurido pelas infinitas demandas de consumo.
Somos feitos da matéria que compõe o planeta ou da que compõe os equipamentos e os gadgets?
Tal qual o planeta, estamos exaustos com nossas próprias demandas egoicas e hiperbólicas.
Será que o filme “Exterminador do Futuro” e acertou na sua previsão? A Skynet, empresa fictícia do filme, tomou conta! Nós trabalhamos para as redes sociais, DE GRAÇA e incessantemente.
Nós alimentamos voluntariamente esse conglomerado de empresas de tecnologia que prosperam com nossa ânsia e compulsão por audiência, engajamento e seguidores.
No ambiente corporativo, aceitamos todas as demandas, seja por medo de perder o emprego ou por carência, querendo agradar a todos e sermos aceitos no “grupinho”. Sentimos culpa se paramos para descansar ou pedimos férias.
Proteger o tempo significa uma volta ao básico. O que é importante para mim, de verdade? Quem eu sou, quem eu quero ser? Não é o que eu tenho ou que eu conquistei. É a volta ao SER ao invés do ter.
Proteger o tempo é blindá-lo dessa demanda incessante, dessa enxurrada de informação, selecionar as atividades que são descartáveis, que não merecem a sua atenção e dedicar sua força criativa para aquilo que é importante para você. É ter um olhar mais compassivo para suas próprias limitações.
É separar tempo para o descanso, para o ócio criativo e para apreciar o que é bom.
Para encontrar o que é importante para você, é necessário um mergulho para dentro de si. A resposta não está fora, como eu já disse, vivemos tempos de desconstrução. A resposta está no silêncio, na quietude, na escuridão do encontro consigo mesmo.
O dragão que guarda os maiores tesouros fica na caverna mais profunda. Os tesouros, a caverna e o dragão são elementos simbólicos que compõem o processo de autoconhecimento, a terapia psicanalítica, por exemplo.
Metaforicamente, seus tesouros estão guardados nas profundezas do seu ser (a caverna), vigiados por um dragão que representa tudo aquilo que você não quer enfrentar sobre si mesmo. Vença o dragão e acesse os tesouros, é o que todo contos de fada profetiza e eles nunca estiveram tão certos.
Você pode continuar tentando controlar o seu tempo e responder ao Deus Consumo, pagando com sua vida e vagando roboticamente na sociedade do cansaço. Ou pode proteger o seu tempo, sair do automático, dedicá-lo a coisas mais valiosas, que vão te alimentar e enriquecer a vida. Ou seja, fugir da lógica doentia prevalecente.
A escolha sempre será sua.
Se você não acredita em mim, talvez o psiquiatra e criador da Psicologia Analítica, Carl Jung te inspire: “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.”
 
								 
                     
                            
                            
                                
                                 
                            
                            
                                
                                